Crônicas dos Sentimentos I - Quando o sorriso é encantador demais.

     Sou uma pessoa um pouco indecisa e não gosto muito de fazer planos. Do meu ciclo de amigos, fui o último a decidir para nos juntarmos em uma viagem de muita baderna. Eu não queria ir talvez por um pouco de medo de preconceito que já tive que enfrentar em encontros de igreja. À muito custo, porém, resolvi aceitar o convite e partir para essa aventura. 
     Assim, acabei reencontrando uma antiga paixão. Mas essa será uma nova história, já que esse momento não alterou o ocorrido no passado. Na primeira festa, me perdi de meus amigos mas encontrei o Fernando com os amigos de seu time de vôlei. Me fiz de coitado e ingressei à fila junto deles. Era nessa festa que eu ficaria com o Fernando, já que há tanto tempo eu o queria. Mas as coisas não aconteceram dessa forma. O Fernando é um cara diferente que não gosta de sair muito, e é muito difícil conseguir arrancá-lo de casa. Foi embora e eu nem percebi, já que a bebida já havia se apossado um pouco de meu corpo.
     Deu 5h da manhã, era hora de partir para o ônibus e voltar para o nosso alojamento. Encontrei minha amiga Amanda junto com um dos amigos do Fernando, o Leafar. Leafar tinha um sorriso maravilhoso, que só de lembrar meu coração acelera - ainda. Fomos em pé, pois não havia mais assentos. A inércia brincava com os movimentos dos nossos corpos que se tocavam a cada breque do ônibus. Foi nesse momento que surgiu uma pequena chama entre nós.
     Assistir ao jogo de vôlei onde havia meus dois pretendentes só me fez ficar ainda mais confuso. Qual eu escolheria? Eu brinquei com uma amiga e disse que um deles ia me fazer sofrer porque era a minha primeira opção, e o outro eu faria sofrer porque não era quem eu queria na realidade. Só que a vida é muito mais complexa que a gente imagina, e eu errei nessas previsões. E errei feio.
     O Leafar não era a minha primeira opção, mas foi com ele que eu passei a segunda noite. Estávamos mais uma vez voltando da festa, mas sentados dessa vez. Ficamos conversando sobre às nossas vidas até que ele pegou em minha mão de um jeito tão suave, suficiente pra que eu caísse de amores por ele. Foram beijos maravilhosos que me encantaram de tal maneira que não conseguia sair do local. Ele acabara de roubar meu coração. 
     Dessa vez, assistindo ao seu jogo de vôlei, parecia que cada ponto que o Leafar fazia era pra mim. E ele fez muitos pontos. A última noite foi ainda mais maravilhosa. Essa eu desejava ardentemente não acabar. Apesar de eu ter ficado bem bêbado, a ponto de andar em linhas verticais diagonais, ele me segurava e era ali meu porto seguro. 
     Mas na hora de ir embora, ele não estava mais lá e eu fui sozinho. O mais engraçado é que na última noite, a que estávamos mais juntos que as outras, não voltamos juntos. Não é engraçado na verdade, e sim triste. Triste porque foi nesse momento que tudo começou a ser ilusão. O nosso último beijo tinha ficado nessa festa também. Mas eu cheguei no alojamento e não dormi não! Esperei - no frio, pois estava MUITO frio - por mais de duas horas, até que ele chegasse com a Amanda. Não sei o que ele deve ter aprontado, mas não me importava. Só queria ver aquele sorriso mais uma vez pra dormir feliz e despreocupado. Conversamos um pouco e nos despedimos.
     No outro dia, que era o mesmo já que eu devo ter dormido umas duas horas ou menos, nos encontramos mais uma vez e ele me disse que talvez não almoçasse pela cidade pois iria embora. A gente não tinha comunicação, pois não estava com o celular. E essa foi a última vez que nos vimos. Só que ainda assim eu esperava encontrá-lo de novo. Ao chegar em casa, bem mais tarde, havia um recadinho dele em minha rede social que só serviu pra me iludir [ainda mais]. 
     Foram algumas semanas de bastante papo por mensagens apenas, já que agora ele morava em uma cidade de quase mil quilômetros de distância da minha. Mas os papos foram ótimos, e cada vez mais eu escolhia ele pra gente poder ficar juntos. Era esse que eu queria namorar e foda-se essa distância. Mas um dia ele abriu o jogo e disse que ia conversar com o ex, que tinha um sentimento muito forte por ele, entre outras baboseiras. O ex dele já haviam e dado moral um dia em uma balada, e acho que rolaria da gente se conhecer também. Ainda bem que não nos envolvemos, mas que mundo pequeno é esse? Eles voltaram e eu fiquei a ver alguns navios indianos. Foi esse o fim, pois acabaram as mensagens - até porque não havia mais sentido de continuar com elas.
     Alguns dias depois, ele voltaria pra minha cidade pra pegar um diploma. Apesar de ficar pouquíssimo tempo, eu queria muito vê-lo. Mas sabia que era melhor deixar quieto, já que ele estava comprometido. Só que ele disse que viria, e que queria me ver também. Acabamos nos encontrando mas nada rolou. Ainda bem, um problema a menos. Ou não. O fim da história poderia ser aqui mesmo, apesar de já ter sido bem antes. Quem diria que aquele que eu jurava fazer sofrer foi o que me fez derramar diversas lágrimas durante muito tempo. 
     Oito meses depois, nos encontraríamos mais uma vez. O destino quis brincar comigo, me fazendo encarar aquele sorriso que mexeu tanto com meus sentimentos no passado. E dessa vez era um encontro duplo, pois o namorado estava presente também. Foi difícil encará-lo novamente. Ver ele dançando com o namorado da mesma forma que sei que dançamos naquela ultima festa. Sei que é totalmente descabível esse tipo de comentário visto que eu sou o intruso da história. Porém a gente não consegue controlar os sentimentos quando eles estão tomando conta da gente. E ele estava tomando conta de mim, pois eu queria sequestrar aquele garoto e arrancar o coração dele.
     
     Mas o mais sensato a fazer foi pedir pra ele me devolver o meu, que havia roubado outrora.






Vale a ressalva de que os nomes das pessoas de gênero masculino são fictícios e apenas representam aos originais a quem se referem. 

Crônicas dos sentimentos

Quantas pessoas novas entram e saem de nossa vida a todo momento, de uma maneira tão rápida, ou tão lentamente, que torna-se absurdamente difícil perceber a mudança. Porém, o curioso fato de algumas lembranças se tornarem tão persistentes em nossa memória intriga essa afirmação. Será que essa pessoa realmente saiu de sua vida? Será que ela realmente entrou? Mas como citado, é um fato, portanto, como canta o saudoso Luan Santana: as lembranças vão na mala pra te acompanhar. E elas perturbam, não vão quietinhas.. E é por isso que a partir de hoje eu decidi criar as Crônicas dos Sentimentos, que consiste em diversas publicações em que relatarei algumas experiências - boas ou ruins - acerca de pessoas que passaram por minha vida, sem citar nomes dos envolvidos (óbvio).